Intervenção Estatal e Baixa Competividade


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Foi publicada a entrevista que concedi à Tribuna da Imprensa , jornal fundado por Carlos Lacerda em 1949.

“Intervenção estatal e baixa competividade levam o Brasil a ter um dos ambientes de negócios mais instáveis do mundo.” Tribuna da Imprensa.

Por REDAÇÃO
04/01/2025 – 11h24
tribuna.com.br

Economista afirma que Brasil concentra uma quantidade recorde de instituições solicitando Recuperação Judicial ou decretando falência / Daniel Rivera (Divulgação).

Em entrevista à Tribuna da Imprensa, o economista Daniel Rivera aponta as principais dificuldades enfrentadas pelo País para atração de investimentos e pleno desenvolvimento do mercado interno

Com ampla experiência nos mercados nacional e internacional, o economista Daniel Rivera assessorou importantes transações de fusões e aquisições empresariais no Brasil e no exterior, tendo inclusive trabalhado em empresas globais, como a Petrobras e a Ernst & Young. Como sócio-fundador da Elit Capital, o economista tem visto o cenário econômico e fiscal do Brasil com cautela. Em entrevista exclusiva à Tribuna da Imprensa, Daniel Rivera aponta os principais gargalos que travam a economia brasileira, e do Rio de Janeiro, que, apesar de apresentar bons resultados, especialmente no turismo, ainda precisa trabalhar muito para ter um ambiente de negócios estável e juridicamente previsível.

Tribuna da Imprensa: Como o senhor avalia o ambiente de negócios no Brasil, especialmente no Rio de Janeiro? Como a instabilidade dos cenários fiscal e econômico podem impactar a perenidade das empresas?

Daniel Rivera: O ambiente de negócios é altamente dependente de alguns fatores específicos, como: confiança, segurança e estabilidade/previsibilidade. Com base nas nossas interações com empresários brasileiros e acesso a dados sobre o mercado, identificamos uma tendência, claramente, desfavorável ao ambiente de negócios no Brasil. Podemos citar apenas alguns dos indicadores que fazem do ambiente atual instável, a começar pelo déficit fiscal. No acumulado em doze meses, o resultado nominal do setor público consolidado, que inclui o resultado primário e os juros nominais apropriados, alcançou R$ 1,1 trilhão; o que representa 9,50% do PIB. Já a dívida bruta do Governo Federal abocanhou 77,7% do PIB, somando R$ 9,1 trilhões, em novembro de 2024; um aumento significativo de 3,9 p.p. do PIB.

Tribuna: E quais são as consequências desse contexto?

Daniel Rivera: Como consequências temos a disparada do dólar em relação ao Real. A moeda nacional sofreu uma desvalorização de 21,82%, em 2024. O percentual faz da nossa moeda a mais desvalorizada entre 27 economias, indicando uma das maiores fugas de capital da História do Brasil. O Ibovespa, por sua vez, apresentou o pior desempenho em comparação com outras bolsas de valores internacionais, sofrendo uma desvalorização de 29,92%, em dólares no ano. Além disso, temos ainda expectativas de elevação da taxa de juros, o que reflete a contínua e acelerada deterioração da economia nacional.

Tribuna: Quais são os impactos desses indicadores no mercado de capitais?

Daniel Rivera: O mercado de capitais é extremamente importante na dinâmica econômica. Ele tem a função de viabilizar investimentos e financiar o setor produtivo, por meio de estruturação de empréstimos/dívida ou participação societária (equity / emissão de ações). Com os juros em patamares restritivos, as empresas enfrentam condições mais desafiadoras para rolarem suas dívidas. A última empresa a abrir o capital (IPO) na Ibovespa foi a Vittia (VITT3), em setembro de 2021. Desde então, enfrentamos uma estagnação de mais de 3 anos. Para deixar o cenário ainda mais claro: o Brasil registra um elevado número de empresas altamente alavancadas e em situação de estresse financeiro, além de concentrar uma quantidade recorde de instituições solicitando Recuperação Judicial ou decretando falência.

Tribuna: E quanto ao Rio de Janeiro?

Daniel Rivera: No 2º quadrimestre de 2024, o Rio de Janeiro, de acordo com Mapa de Empresas, uma ferramenta do Governo Federal, registrou um aumento de 16,2% no fechamento de empresas em relação ao mesmo período de 2023. Isso coloca o Rio na liderança do ranking nacional de negócios com atividades encerradas. Embora, a economia fluminense apresente saldo positivo entre empresas abertas e fechadas, registrando a abertura de 47 mil empresas no 2º quadrimestre de 2024, e 124 mil nos últimos 12 meses, quase 80% delas são do tipo Empresário Individual, incluindo MEI; o que pode significar uma migração de empregos para um empreendedorismo por necessidade.

Tribuna: Quais são os fatores de risco ou de solidez para um ambiente de negócios equilibrado?

Daniel Rivera: De acordo com a teoria econômica, um ambiente de negócios favorável exige um mercado livre, com o mínimo de intervenção estatal. O desenvolvimento do ambiente de negócios se dá em função da disponibilidade de renda da população, da capacidade produtiva e de investimento das empresas. O Custo Brasil impõe pesadas limitações à produção, ao consumo e ao investimento, gerando alta carga tributária, além de ineficiência dos serviços públicos. A reforma tributária recém-aprovada indica que teremos a maior carga tributária do planeta.

Tribuna: O Rio de janeiro tem atraído um volume de investimentos considerável. Isso é sinal de estabilidade, ou o cenário ainda deve ser melhorado para receber novos negócios?

Daniel Rivera: O caso do Rio de Janeiro é particularmente preocupante devido a questões políticas e de segurança pública. O Governo do Estado teve sete governadores investigados nos últimos oito anos, sendo que 5 deles foram efetivamente encarcerados. Invariavelmente, estas questões impactam as decisões de investimento na economia fluminense, onerado as empresas e inibindo a produção e o consumo. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), o Brasil, infelizmente, lidera o ranking dos países com o maior número de homicídios do mundo, apesar de não estar entre os mais violentos. O Rio de Janeiro tem índices bastante elevados em comparação com outras cidades turísticas globais. Isso restringe significativamente os investimentos e o potencial turístico da cidade.

Tribuna: Como o senhor avalia o perfil médio do empresariado brasileiro, em especial o fluminense?

Daniel Rivera. Eu sou carioca e desenvolvi a primeira fase da minha carreira profissional no Rio de Janeiro, especialmente como economista na Petrobras, portanto, posso afirmar que conheço bem a cultura da Cidade Maravilhosa. Os nossos empresários sabem identificar boas oportunidades e explorá-las excepcionalmente bem, sempre com muita criatividade. Os brasileiros são muito empreendedores e verdadeiros sobreviventes neste ambiente de negócios inóspito que sempre tivemos no Brasil, e em especial, na capital fluminense, onde as pessoas buscam levar vantagens nas relações, muitas vezes de forma indevida. As pessoas fazem negócios com quem confiam; a falta de segurança, previsibilidade e confiança é extremamente prejudicial ao ambiente de negócios local.

Tribuna: O empresariado brasileiro é um bom leitor de cenários complexos? Quais são as principais falhas cometidas por eles?

Daniel Rivera: A resposta é positiva em relação à leitura que os empresários costumam fazem sobre os mercados em que atuam, mas nem sempre verdadeira quando se trata do cenário político e econômico brasileiro e, principalmente, internacional. Identificar tendências econômicas costuma ser mais difícil, sobretudo para as empresas de pequeno e médio porte, uma vez que as consequências a médio e longo prazo não são óbvias e requerem estudos especializados. Por outro lado, compreender corretamente essas tendências é fundamental para o posicionamento no mercado.

Tribuna: Entres os gargalos enfrentados pelas empresas no Brasil quais são os mais difíceis de ultrapassar? O Rio de Janeiro oferece algum desafio em especial?

Daniel Rivera: Os desafios de se empreender no Brasil são inúmeros. Mas o investimento em educação e na formação profissional é o caminho para desenvolvimento do mercado. É através do conhecimento, aliado à experiência e experimentação, que alcançamos a inovação e criamos produtos e serviços. Com isso, é possível aumentar a produção, a geração de empregos e o consumo, que devem encontrar um mercado livre de intervenções estatais, para que a economia se desenvolva de forma plena e eficiente. O Rio de Janeiro, por exemplo, conta com excelentes escolas, e uma população com ótima formação. Os principais desafios do estado são a insegurança pública e certos desvios da cultura local, que tornam o ambiente menos favorável aos negócios. Além da educação, os maiores gargalos enfrentados pelos brasileiros são a pesada carga tributária, altos encargos trabalhistas, concorrência desleal, incerteza jurídica, limitações estruturais de renda e consumo, além da ineficiência estatal. O melhor programa social, e a melhor forma de justiça social é o acesso à educação e ao trabalho. Assim formamos um país de pessoas livres e independentes, e avançamos como sociedade.

Tribuna: Quais recomendações o senhor daria para quem quer abrir um negócio no Rio de Janeiro?

D.R.: Esteja bem assessorado.

Patricia Lima

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