Estimando e capturando Sinergias em Transações Corporativas
O conceito de valor não é exclusividade de finanças, mas uma questão individual e se baseia em propósito, objetivos e prioridades. O que é de grande valor para uma pessoa, pode não ser para outra.
Em finanças corporativas, valor, preço e lucro são conceitos distintos. A geração de valor por parte das empresas está relacionada ao longo prazo, enquanto que o lucro é uma medida de resultado operacional de curto prazo, e que pode ainda assim destruir valor e desvalorizar a empresa em função do impacto das estratégias no longo prazo.
No mundo corporativo, gerar valor está além da simples redução de custos e despesas. As empresas precisam ser eficientes, e concentrar seus esforços nas variáveis que realmente impactam a geração de valor. O valor de uma empresa está relacionado portanto à sua capacidade de gerar riqueza ao longo do tempo, de forma sustentável, vinculado às expectativas em relação à geração de fluxo de caixa excedente a seus custos, despesas e investimentos, necessários à sua continuidade.
Um custo relevante no Brasil, muitas vezes negligenciado, é o custo de oportunidade do capital próprio investido, entendido como o retorno da melhor alternativa de investimento, dado o mesmo risco. Quando considerado na equação, o custo de oportunidade pode evidenciar um resultado econômico adverso para a geração de valor da empresa. Recentemente uma pesquisa realizada pela McKinsey, uma das consultorias mais respeitadas no mundo, demonstrou que apenas 10% das empresas de capital aberto no Brasil geraram valor, enquanto 75% empatam e 15% destruíram valor.
Lucro por si só, não garante a remuneração do capital aplicado ou a atratividade econômica de um empreendimento. Mesmo com crescimento e apurando lucro, caso não seja suficiente para remunerar o capital investido, a empresa destrói riqueza, e isso se reflete naturalmente em seu valor de mercado. Nem todas as decisões que elevam as vendas ou o lucro da empresa são capazes de criar valor. A sustentabilidade se dá por meio de um modelo de negócio eficiente, com fluxo de caixa e custo médio ponderado de capital (próprio e terceiro) que reflita adequadamente o risco/retorno.
O papel do assessor financeiro é identificar a forma pela qual a empresa gera valor, e apurar o impacto das decisões empresariais no valor da empresa: Valuation, subsidiando assim as decisões dos gestores. As técnicas e ferramentas de finanças corporativas são utilizadas para demonstrar as implicações das estratégias e políticas empresariais adotadas na geração ou destruição de riqueza, vinculando a remuneração dos gestores à geração valor.
Os princípios de geração valor: Value drivers, ou seja, como a empresa cria valor para os grupos de interesse: stakeholders (acionistas, colaboradores, clientes, fornecedores, sociedade, etc), devem constar na estratégia corporativa. Os princípios de geração de valor precisam ser identificados de forma clara e comunicados constantemente para as pessoas. Os colaboradores possuem enorme influência na geração de valor, e as empresas com os talentos mais capacitados e consciência sobre o propósito do negócio, invariavelmente alcançam resultados melhores, mais consistentes com os princípios da empresa, além da geração de lucro de curto prazo.
O objetivo empresarial é disponibilizar o que o consumidor deseja, pelo preço que esteja disposto a pagar, entregue conforme a comodidade requerida, sendo para isso necessário adotar estratégias adequadas tanto no nível operacional, ligado à eficiência do modelo de negócios, tecnologia, prazos e margens; quanto de financiamento, como: estrutura de capital, nível de alavancagem (custo capital próprio x terceiros, e riscos) e de investimentos (alocação de capital – risco x retorno).
Para se definir e garantir uma boa execução da estratégia, é preciso destacar a importância da combinação de uma gestão experiente no negócio e suporte de assessores estratégicos, com conhecimento em finanças corporativas. Executivos experientes têm grande capacidade de identificar tendências no mercado e formas de melhorar a eficiência e elevar as margens, de maneiras que um investidor puramente financeiro talvez não vislumbre. Ao mesmo tempo, assessores estratégicos, com conhecimento e experiência em finanças corporativas, podem alavancar sobremaneira o crescimento e a geração de valor.
Investidores são hábeis em identificar ativos geradores de valor. A análise abrange um planejamento cuidadoso sobre como se dá a geração de valor, eficiência, vantagem competitiva, dimensionamento, potencial e tendência do mercado, além de possíveis sinergias, e concentra-se no longo prazo, em fatores que garantam perenidade ao negócio, como sua capacidade de adaptação, forma de relacionar-se e agregar valor no mercado. Empresas que geram valor são mais hábeis em atrair capital e oportunidades de fusões e aquisições.
Uma transação que viabilize o propósito e objetivos, pode valer mais do que indicadores financeiros possam capturar de forma isolada. Os elementos sedutores ao capital, que compõem um ativo de valor, devem constar de forma clara no plano de negócios para que se possa iniciar processos de fusões e aquisições com maiores chances de sucesso.
A próxima etapa do processo de preparação e criação de valor em transações corporativas, é o mapeamento e estimativa das possíveis sinergias a serem capturadas, o que envolve a compreensão não só do próprio negócio como também o entendimento sobre as características da outra parte, seja um comprador estratégico, uma empresa alvo de aquisição ou mesmo um investidor ideal, que viabilize o máximo de valor em termos de sinergias de uma forma geral. Este é o tópico de um próximo artigo.