Sucessão Empresarial
Perenidade Corporativa
Daniel Rivera Alves
Sócio Fundador da Elit Capital
A perenidade corporativa é a capacidade que uma empresa possui de manter-se próspera ao longo do tempo, garantindo a continuidade dos negócios, objetivo comum de empreendedores e um reconhecimento de seu sucesso empresarial.
Adaptar-se às mudanças é um desafio constante na vida cotidiana de empresários para atender a mercados cada vez mais exigentes e competitivos globalmente. Seguir relevante em ambientes complexos, às vezes até mesmo hostis, exige dedicação, investimento e persistência, especialmente no Brasil. Por garantir a subsistência da empresa em condições comprovadamente mais adversas do que em países europeus ou norte-americanos, o empresário brasileiro é comumente considerado por muitos como um verdadeiro herói, um indivíduo comum que encontra forças quase que sobrenaturais para perseverar apesar dos esmagadores obstáculos que se interpõem.
Estar preparado para as incertezas evidencia a importância de profissionalizar a empresa, planejando ativamente sua sucessão, reflete diretamente na perenidade do negócio. Muitas empresas simplesmente deixam de existir quando seus fundadores se aposentam ou precisam ausentar-se por qualquer razão, situação mais comum em negócios de pequeno e médio porte, que ainda não alcançaram a maturidade corporativa e carecem de uma estrutura bem-organizada, com processos definidos, sistemas de informação implementados, e colaboradores e sócios preparados, com autonomia e comprometimento com seu propósito.
Uma das principais responsabilidades de um empreendedor é pensar o futuro da empresa, preparando-se para enfrentar os desafios e mitigar os riscos, avaliando frequentemente os mercados em que atua, buscando identificar oportunidades de inovação, seja em novos produtos e serviços ou mesmo em seus processos. É preponderante repensar o modelo de negócios perante a nova realidade e tecnologias que se apresentem, estudando formas de alcançar níveis cada vez mais elevados de eficiência na operação e na gestão da empresa, além de acompanhar e reavaliar ativamente a estratégia definida, verificando se as relações de causa e efeito inicialmente imaginadas se comprovam e geram os resultados almejados, implementando os ajustes quando necessário.
Em empresas de médio porte é comum o dono ainda estar diretamente envolvido na execução ou supervisão das atividades rotineiras da operação. São em geral donos de empresas familiares, em que a gestão é passada de uma geração para a próxima. Para que esta situação de envolvimento direto nas tarefas cotidianas não restrinja o crescimento, à medida em que a empresa evolui o empresário precisa desenvolver novas competências, ou adquiri-las no mercado através da contratação de profissionais especializados. Com o crescimento da operação, e a depender do tipo de atividade econômica em que a empresa esteja envolvida, podem surgir necessidades de novos investimentos, como em máquinas e equipamentos, sistemas mais avançados, desenvolvimento ou aquisição de tecnologia, capital de giro e automação de processos, mas, acima de tudo, o empresário depara-se com a imprescindibilidade de investir na formação de equipes e delegação de tarefas e responsabilidades.
O empresário que consegue executar com êxito a transição de uma estrutura familiar para uma corporação, é aquele capaz de desenvolver a sua própria liderança e criar um ambiente de trabalho propício ao desenvolvimento das pessoas com quem trabalha, alavancando desta forma o crescimento da sua organização. A liderança empresarial é conquistada por meio do desenvolvimento de relacionamentos de confiança, construídos através da convivência, seja com colaboradores, clientes ou qualquer outra parte interessada nos negócios da empresa.
Como a empresa efetivamente cria valor para os seus acionistas, e como é possível capturar este respectivo potencial de valorização? Crescimento por si só não garante a geração de valor, que pode inclusive acelerar a destruição de valor no caso de operações deficitárias, por exemplo. Em termos econômicos, aliar altas taxas de crescimento e margens operacionais generosas à baixa necessidade de investimentos e capital de giro tem uma grande influência na geração de valor econômico, resultado da expectativa de geração de fluxos de caixa futuros em excesso à necessidade de capital que a empresa precisa para operar.
Ao se preparar para a sucessão, é importante avaliar a empresa de forma ampla, considerando critérios complementares aos parâmetros puramente econômico-financeiros, como conhecer a tendência e a dinâmica dos mercados em que a empresa atua, o grau de inovação e diferenciais dos produtos e serviços prestados em relação à concorrência e a eventuais produtos substitutos, além do próprio modelo de negócios e respectivos riscos inerentes, pois são alguns dos elementos que sustentam o crescimento. O quão bem estruturada e preparada a empresa está, em termos de organização e pessoas, é outro fator chave para a uma avaliação bem-feita, principalmente quando se pensa em buscar capital junto ao mercado financeiro ou atrair novos sócios e investidores.
Estar preparado significa ainda a capacidade de identificar rapidamente e aproveitar adequadamente as melhores oportunidades de investimento disponíveis. Em última análise, alcançar um alto nível de valorização é o resultado de decisões consistentes ao longo do tempo, e para conseguir isso é fundamental cercar-se de bons conselheiros, pessoas experientes e especializadas em suas áreas de conhecimento, que possam oferecer o suporte para se alcançar a melhor escolha possível, ponderando estas opiniões e calculando as possíveis implicações da decisão no futuro da empresa e estimativas para o fluxo de caixa esperado.
Quando me refiro a tomar boas decisões, talvez um dos maiores desafios para as empresas de médio porte seja justamente as decisões de investimentos. São decisões geralmente mais complexas, que requerem conhecimento especializado de finanças corporativas, para incrementar a eficiência financeira, e nem sempre está disponível em empresas de médio porte. Algumas questões básicas podem servir para exemplificar a importância do tema: Captar ou não uma dívida, e a que preço, para comprar insumos à vista com desconto? Qual o nível ótimo do estoque? Comprar ou alugar um imóvel? Estas são apenas algumas questões nem sempre simples de serem respondidas sob a ótica do custo financeiro, juros, ou mesmo do ponto de vista do custo de oportunidade. São decisões que podem afetar significativamente o valor da empresa ao longo do tempo e que precisam ser endereçadas adequadamente, através da implementação da gestão contínua do valor da empresa.
No processo de preparação sucessória, considerar a implementação de uma governança corporativa pode contribuir para o processo decisório da organização e ajudar os sócios, por meio de uma visão técnica dos conselheiros, no suporte à decisão de questões estratégicas. A governança corporativa é considerada um dos principais pilares da perenidade corporativa, um pré-requisito exigido por muitos investidores profissionais como os fundos de investimento, e bastante valorizado nas interações com o mercado financeiro de forma geral, caracterizando-se como uma prática fundamental para as empresas que pretendem se relacionar com a transparência exigida por grandes clientes.
Ao preparar a sucessão, na implantação da governança corporativa, a constituição de um conselho de administração é crucial para acelerar a tomada de decisões tecnicamente fundamentadas. Um conselho de administração composto por conselheiros independentes pode contribuir para o embasamento técnico amplo das decisões empresariais, e ajudar a mitigar os riscos associados a pressões emocionais momentâneas e soluções de curto prazo, possibilitando maior clareza na adoção de medidas para a geração efetiva de valor ao longo do tempo, alinhadas ao legado e aos princípios da empresa, respeitando as pessoas envolvidas no processo.
Preparar a sucessão de um empresário de sucesso requer planejamento cuidadoso e execução primorosa. Nos casos em que existe a possibilidade de formar um membro da família para assumir os negócios, o que demanda tempo e investimento, a família tem condições de dar continuidade à sua gestão, mas em outras situações, apesar de bem-sucedidas, muitas empresas não conseguem encontrar alternativas claras para a saída do seu fundador ou respectivos herdeiros, simplesmente por não haver um membro da família devidamente preparado ou mesmo interessado em assumir os negócios, e a perenidade da empresa pode estar em risco.
Quando não há uma possibilidade clara de sucessão familiar, uma das possibilidades é contratar no mercado um profissional experiente e bem formado para assumir a função do então principal executivo. Esta opção apresenta diversos benefícios, como a transição de uma gestão família para uma gestão profissional, e a simplificação e rapidez em se identificar um bom substituto em comparação a outras opções, mas traz consigo outras implicações, como desafios para se acompanhar os resultados da nova gestão e garantir o seu alinhamento aos interesses dos sócios remanescentes, a observância das práticas da nova gestão e respectiva aderência cultural, além da preservação dos princípios, valores e comportamentos cultivados ao longo do tempo e estabelecidos pela gestão familiar.
O M&A pode ser considerado uma das formas não convencionais de sucessão empresarial, e pode garantir a perenidade das atividades da empresa. Identificar e atrair um novo sócio, capaz de garantir a continuidade do bom trabalho realizado pelos atuais sócios e colaboradores, seja para compor o capital social e contribuir para o crescimento da empresa durante um período pré-determinado, ou mesmo para substituir definitivamente o executivo da família, que se retira da sociedade após contribuir por um longo período para o sucesso da empresa. Esta é uma excelente alternativa para muitos casos de ausência de sucessores, desde que as empresas se preparem corretamente para este movimento e que tenham alcançado o respectivo nível de organização e maturidade necessários para realizar uma transação desta natureza. Observados estes critérios, o sucesso na alienação de participação societária ou a venda total da empresa podem ser as melhores soluções sucessórias possíveis, tornando-se um evento de liquidez relevante para os sócios retirantes e assegurando ao mesmo tempo a perenidade dos negócios.
Estar preparado para uma transação corporativa, seja uma captação de recursos, alienação de participação societária, fusão ou aquisição, é um pré-requisito para permitir um processo fluido e rápido, reduzir os riscos da operação em si, elevando as chances de êxito da operação, e obter o melhor valor possível pela empresa.