Juros, Inflação e Crescimento: Perspectiva Econômica para 2026 e 2027.


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Juros, Inflação e Crescimento: Perspectiva Econômica para 2026 e 2027.

Juros, Inflação e Crescimento: Perspectiva Econômica para 2026 e 2027.

Daniel Rivera Alves
Sócio Fundador da Elit Capital

A economia global se encaminha para um período de crescimento moderado e assimétrico, segundo o relatório Global Macro Outlook 2026-27, publicado pela Moody’s em novembro de 2025. O documento destaca que divergências nas políticas monetárias e mudanças nas cadeias comerciais estão moldando um cenário de expansão estável, que impõem desafios estruturais e riscos distribuídos de forma desigual entre países desenvolvidos e emergentes.

Crescimento Global: Estabilidade com Assimetria.

A projeção de crescimento mundial gira entre 2,5% e 3% ao ano, abaixo da média histórica. Economias avançadas, como Estados Unidos, Europa e Japão, enfrentam desaceleração estrutural causada por envelhecimento populacional, juros elevados e baixa produtividade. Os mercados emergentes, como Índia, México e Vietnã, por outro lado, mantêm um maior dinamismo, impulsionados por consumo interno, digitalização e foco em investimentos em infraestrutura.

Política Monetária e Inflação: Uma Relação de Causa e Controle.

A política monetária é o principal instrumento utilizado pelos bancos centrais ao redor do mundo para gerir a inflação. Ela atua por meio da regulação da taxa básica de juros, influenciando diretamente o custo do crédito, o consumo, investimento e, por consequência, os preços da economia. Quando a inflação está alta, o banco central eleva os juros para conter a demanda agregada. Quando a inflação está baixa ou a economia desacelera, os juros podem ser reduzidos para estimular a atividade.

No Brasil, essa dinâmica é regida pelo regime de metas de inflação, adotado desde 1999. O Conselho Monetário Nacional (CMN) define a meta anual de inflação, e o Banco Central do Brasil (BACEN) ajusta a taxa básica de juros (Selic) buscando manter a inflação dentro de uma faixa de tolerância. Essa meta funciona como uma âncora nominal, ou seja, uma referência, para orientar as expectativas dos agentes econômicos. Quando a meta é crível e respeitada, ela reduz incertezas, facilita o planejamento dos agentes e evita que choques temporários se transformem em inflação persistente, desancorada.

O Papel da Âncora de Inflação

A âncora de inflação tem como objetivo preservar a estabilidade macroeconômica. Ela atua sobre três frentes:

A âncora pode ser enfraquecida por fatores externos à política monetária, especialmente quando o próprio governo gera pressões inflacionárias.

Mecanismos de Expansão Monetária e Seus Impactos: Como o Governo Gera Inflação.

Embora o Banco Central seja responsável por ancorar as expectativas e gerir o processo inflacionário, é importante deixar claro que o próprio governo é fonte de desequilíbrios que dificultam essa gestão da inflação por parte do BACEN. As principais formas de geração de inflação por parte do governo incluem:

  1. Expansão Monetária para Financiamento de Déficits Fiscais.

Ao gastar mais do que arrecada, o governo incorre em déficit fiscal. Para financiá-lo, recorre a emissão de dívida pública e, em casos extremos, à emissão direta de moeda, prática conhecida como seigniorage. Embora o Brasil tenha vedado a monetização direta da dívida pelo Banco Central desde a instituição do Plano Real, formas indiretas de financiamento monetário ainda ocorrem, como por exemplo:

Esse aumento da base monetária, sem correspondente aumento da produção, eleva a quantidade de dinheiro em circulação, pressionando a demanda e os preços.

  1. Política Fiscal Expansionista sem Contrapartida de Produtividade.

Mesmo sem emissão direta de moeda, gastos públicos excessivos podem gerar inflação. Quando o governo injeta recursos na economia, seja por meio de mecanismos de transferências de renda, subsídios setoriais ou investimentos, sem respectivos ganhos de produtividade ou aumento da oferta, a demanda agregada cresce artificialmente, gerando o que se conhece por inflação de demanda.

  1. Desvalorização Cambial Induzida por Incerteza Fiscal.

A política fiscal desorganizada influência na confiança dos investidores, levando à fuga de capitais e à desvalorização monetária. O Brasil é dependente de uma série de insumos e bens importados, e essa desvalorização encarece a importação de produtos estrangeiros, gerando inflação de custos internamente.

  1. Intervenção Estatal em Preços Administrados.

O governo controla diretamente ou indiretamente os preços de diversos bens e serviços da economia, como combustíveis, energia elétrica e transporte público. Ao intervir na economia e reprimir preços artificialmente, o governo gera distorções e ineficiências no mercado. Em muitos casos, cria-se uma inflação “represada” que, quando liberada, gera choques inflacionários abruptos.

  1. Subsídios e Incentivos Fiscais Mal Direcionados.

Subsídios setoriais e incentivos fiscais, quando concedidos sem planejamento bem fundamentado, critérios técnicos rígidos ou sem a sustentação orçamentária, distorcem os preços relativos e criam ineficiências os mercados. Além disso, aumentam o gasto público ineficientes e reduzem a atividade econômica e respectivamente a arrecadação, ampliando o déficit fiscal e a pressão inflacionária.

  1. Aumento de Impostos Indiretos.

Tributos como ICMS, PIS/COFINS e IPI incidem diretamente sobre o consumo. Quando o governo aumenta as alíquotas destes impostos para compensar os déficits fiscais causados por suas políticas equivocadas, o impacto é repassado aos preços finais, elevando a inflação.

Estimativas da Taxa Neutra e o Caso Brasileiro.

Estudos recentes da Rio Bravo Investimentos reforçam a complexidade da política monetária brasileira. Em junho de 2025, o economista José Alfaix indicou que, mesmo em cenário considerado como ideal, a taxa Selic precisaria estar em torno de 15% para conter pressões inflacionárias e manter a estabilidade. Outro estudo mais recente da mesma casa estima que a taxa de juros real neutra no Brasil seria de 5,7%, o que implicaria uma Selic nominal de aproximadamente 9%, mesmo com inflação supostamente controlada.

Essas estimativas indicam que o Brasil parece exigir juros estruturalmente mais altos, um reflexo dos seus riscos fiscais, sua baixa credibilidade institucional e vulnerabilidades cambiais. Comparativamente, outras instituições nacionais, como os bancos Itaú, BTG Pactual e a XP Investimentos, atualmente projetam taxas neutras em uma faixa entre 4% e 5%, e parecem assumir avanços fiscais e melhora nos níveis de confiança, mesmo com a ausência de sinais claros por parte do governo neste sentido.

Definição do Custo de Capital: Bancos Centrais vs Livre Mercado.

A definição do custo de capital, ou seja, da taxa de juros, pelos bancos centrais, em detrimento da precificação pelo livre mercado, pode gerar distorções significativas. Embora aparentemente necessária em regimes monetários considerados modernos, essa prática de definição centralizada do preço do dinheiro tem efeitos negativos quando mal calibrada.

A precificação de capital é o processo de determinar o custo de oportunidade de um investimento, ou seja, o retorno mínimo necessário para justificar um projeto. O modelo mais conhecido e mais aceito pelo mercado é o CAPM (Capital Asset Pricing Model), que calcula o retorno esperado de um ativo com base em seu risco sistemático, combinando a taxa de juros livre de risco com um prêmio de risco.

Reconfiguração Comercial e Perspectivas Regionais

A fragmentação comercial global se intensificou, com destaque para o desacoplamento entre EUA e China. Empresas buscam diversificar fornecedores, beneficiando países como México, Índia e Vietnã. A transição exige investimentos em infraestrutura e estabilidade política, podendo elevar custos no curto prazo, mas aumentar a resiliência no longo.

No Brasil, o crescimento é gradual, sustentado por exportações agrícolas e minerais, limitado por desafios fiscais e institucionais. A política monetária restritiva, combinada com a necessidade de reformas estruturais, define o ritmo mais lento para uma possível recuperação.

Conclusão

A interação entre política monetária, inflação e crescimento revela um cenário complexo, tanto global quanto nacional. O Brasil, em particular, enfrenta o desafio de equilibrar credibilidade fiscal com estímulo à atividade, em um ambiente de juros estruturalmente elevados e impostos cada vez mais altos, desincentivando investimentos. A coordenação entre política monetária e fiscal será decisiva para garantir uma estabilidade econômica mínima para tentar viabilizar um crescimento sustentável nos próximos anos.

Referências:

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